depois do silêncio,—Beto Shwafaty e Flavio Cury—Curadoria de Omar Porto
* 22.05—28.06.25 *
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depois do silêncio,—Beto Shwafaty e Flavio Cury—Curadoria de Omar Porto * 22.05—28.06.25 * * 22.05–28.06.25 *
Orlando tem o prazer de anunciar sua terceira exposição, “depois do silêncio,” duo dos artistas Beto Shwafaty e Flavio Cury, com curadoria de Omar Porto. A abertura será no dia 22 de maio, quinta-feira, das 19h às 22h, e contará com uma performance de Flavio Cury, realizada ao vivo durante o evento. No dia 24 de maio, sábado, às 16h30, acontece uma conversa pública com os artistas Beto Shwafaty e Flavio Cury e o curador Omar Porto.
“depois do silêncio,” reúne obras em diversas linguagens — como pintura em diferentes suportes, objetos, escultura e performance — que lidam com relações entre linguagem, espaço e estrutura social. Os trabalhos possuem relação com a palavra, tanto em seu aspecto conceitual quanto formal. De cunho político e social, as obras se vinculam diretamente ao lugar onde se encontram, potencializando o espaço como agente ativo de reflexão.
O título, “depois do silêncio,” sugere uma suspensão — o que pode emergir após um intervalo, uma pausa, um tempo de reflexão — e convida o público a considerar os gestos e pensamentos que se seguem a momentos de contenção.
Beto Shwafaty articula suas obras a partir de investigações históricas e institucionais, revelando camadas ocultas de poder e representação presentes em contextos culturais. Sua prática se ancora em pesquisas sobre memória e espacialidade, propondo ressignificações críticas por meio de objetos e imagens que carregam marcas de situações sociais mais amplas.
Flavio Cury, por sua vez, aborda a linguagem como um campo simbólico em constante transmutação, tensionando discurso, identidade e pertencimento. Através de composições híbridas e de sua performance, provoca fissuras e deslocamentos nos modos convencionais de percepção, instaurando novos territórios de afeto e crítica. O projeto do artista para essa exposição contou com o apoio do Departamento de Arte e Cultura da Cidade de Munique, Alemanha.
BIOS
Beto Shwafaty
Artista, pesquisador e curador, Beto Shwafaty desenvolve obras a partir de investigações sobre espaços, histórias e visualidades. Conecta questões políticas, sociais e culturais por meio de abordagens formais e conceituais diversas. Participou de exposições como o 33º e 35º Panorama da Arte Brasileira (MAM-SP), 9ª Bienal do Mercosul, Love and Hate to Lygia Clark (Varsóvia), Conversation Pieces (Berlim), Condemned to be Modern (Los Angeles), 38º EVA (Limerick) e MAC International (Belfast). Entre suas individuais, destacam-se Patrimônio Incerto (Capela do Morumbi, 2024), Contrato de Risco (2015) e Amanhã Não Lembrarei de Nada (2019) na Galeria Luisa Strina. Suas obras integram acervos como o da Fundação Kadist (São Francisco), MAR (Rio), IPHAN (Paço Imperial, RJ), Guggenheim Museum e Casa de Las Américas (Cuba).
Flavio Cury
Nascido em São Paulo e radicado em Munique, Flavio Cury trabalha com as interseções entre linguagem, cultura e identidade. Cria gramáticas visuais híbridas que ultrapassam meios, instaurando campos críticos e poéticos de reflexão. É graduado em Artes Visuais pela UNICAMP e mestre pela Zürcher Hochschule der Künste (ZHdK), com passagens pela Université Paris VIII e Le Fresnoy. Exibiu em instituições como o Palais de Beaux-Arts (França), Musée Matisse (França), Bienal Internacional de Liège (Bélgica), Künstlerhaus (Áustria), Kulturfolger (Suíça), Tokyo University of the Arts (Japão) e CICA Museum (Coreia do Sul).
Omar Porto
Vive e trabalha em São Paulo. Arquiteto e urbanista formado pela USU-RJ, é pesquisador e curador independente. Mestre em Artes Visuais pelo PPGAV-UFRJ e doutorando em Arquitetura e Urbanismo pela FAU-USP, sua prática curatorial parte do entrelaçamento entre arte, arquitetura e historiografia. Foi curador de exposições como O eco das sombras (Canteiro-SP), para tocar no real (Loja de Flores-SP), Estruturas do vazio (Casa Jardim Europa-SP), E se ouvíssemos a casa? (Casa Vila Romana-SP), rebento (xow.rumi-RJ), Imóvel em exposição (Casa Dirceu-SP), afeto contínuo (Gaby Indio Arte Contemporânea-RJ), além de A soma dos quadrados dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa (2017) e ÁREA (2018) no SARACURA-RJ.
Exposição: “depois do silêncio,” com Beto Shwafaty e Flavio Cury
Curadoria: Omar Porto
Abertura: 22 de maio, quinta-feira, das 19h às 22h
Conversa pública: 24 de maio, sábado, às 16h30
Visitação: 22 de maio a 28 de junho
Horários: terças e quintas (exceto feriados), das 13h às 18h, ou por agendamento via e-mail info@orlando.art.br ou DM no instagram
Depois do silêncio,
por Omar Porto
Estruturas sociais se aproximam de estruturas de linguagem, como construções de poder e extração. São espelhos de relações verticalizadas que estabelecem modos de pensar e comunicar. Desse modo, esta exposição se coloca como espaço crítico ao incorporar práticas artísticas que buscam refletir, em sua materialidade e forma, questões fundamentais para tatear o presente. Possuindo, em si mesmas e nesse encontro, a capacidade de produção de significado e sentidos abertos.
O título da exposição incorpora esse espaço que se constrói entre a ação e o silêncio, investigando os modos de enunciação das formas de ser e estar no mundo, e os modos de construção dos sentidos, tanto na estrutura da linguagem quanto em seus modos de comunicação e suas reverberações nas lógicas da arte e da cidade. Pretende-se a continuidade como processo que se elabora e se constrói em diferentes instâncias subjetivas. Nesse sentido, a ausência de uma conclusão aponta para outras formas de ocupar e estar no mundo, não conformadas com as lógicas capitalistas. Abre-se espaço para o mover-se.
Uma exposição construída por meio do diálogo com os artistas Beto Shwafaty e Flavio Cury, articulando trabalhos já existentes e outros elaborados a partir das discussões provocadas pela exposição, propondo ocupar o espaço do Orlando e sua localização específica na cidade de São Paulo.
Desse modo, Flavio aponta para uma busca por uma dimensão interior das coisas, construindo palavras através de um gesto próximo à performance e de uma pulsão que instaura no espaço um corpo de significado, de modo a não encapsular os sentidos que elaboram a experiência subjetiva. Interessa a Flavio as fissuras entre a palavra e suas escritas, entre o significado e o significante. Daí seu interesse pela poesia como uma forma de elaboração entre a palavra e o discurso.
nada pulsa
na beira e no rio
mas
nada no rio
pulsa a veia
orvalha um tom
espera um som
e nada
revolve o nada
orvalha o nada
e nada
pulsa na veia do rio
Flavio Cury
Pela poesia, Flavio traz os sentidos aplicados e construídos pela palavra em uma relação entre corpo e referente. A poesia se coloca como uma forma de interrogar o mundo, ao mesmo tempo em que dele extrai a matéria suficiente para a pulsão de vida e de arte. Ao passo que Beto responde:
nada, nada
na neblina, na veia, no vale
nada, nada
na revolta, no silêncio
do orvalho, o tom
nonada
sobra só o eco
de nada
Beto Shwafaty
A palavra, também presente no trabalho do Beto, ganha um caráter de enunciação, trazendo questões sobre o valor do objeto, tanto seu valor de uso quanto seu valor de troca. Seus modos de produção e construção são deslocados para a especificidade do trabalho de arte, ao explorar sua função social para além da função objetiva da obra, seu trabalho de 2019, 1%=48%, tensiona essa relação entre o objeto, a pintura, sua estrutura física e a relação de propriedade em que ela ingressa, a partir do contrato firmado entre o artista e o comprador. Em outro trabalho, o valor da peça parte do custo do m² do bairro em que Orlando está inserido, explorando o simbólico do meio de produção e seus imperativos econômicos embutidos na obra de arte, ao se relacionar com as questões da cidade e do bairro em que a em exposição está inscrita. Nessa construção está presente uma discussão da cidade como negócio, sujeita aos interesses do mercado financeiro que tem a arquitetura como mecanismo de especulação, acionando uma falsa ideia de liberdade introduzida pelo mercado ao relacioná-la com o ideal de vida.
Essas discussões estão presentes em outros trabalhos da exposição como Orçamento-Programa (reeducação para adultos), que articula um processo historiográfico do artista, ao investigar a história da sociologia no Brasil e os modos de desenvolvimento econômico excludentes. Como o próprio artista afirma: seu trabalho se inscreve em uma “triangulação entre exploração, demarcação e valor”, recuperando a discussão que Walter Benjamin propõe ao refletir sobre a aura na obra de arte, a oposição entre o valor de uso da arte como objeto cultural, ao seu valor como realidade passível de exposição. Nesse sentido, seu trabalho “Em vez de fundar-se no ritual, ela passa a fundar-se em outra práxis: a política.” (Benjamin, 1955, p.172).
Entre a palavra, o discurso, seu som e sentido, a comunicação se estrutura entre corpos e modos de relação. Dessa maneira, o silêncio se elabora nesta exposição como pulsão, como possibilidade de linguagem. Como Flavio sugeriu em um de nossos encontros, “o silêncio como uma dobra no tempo”, a partir da ambivalência e de seu estado múltiplo de sentidos. Aqui, a exposição se configura enquanto esse espaço de intermediação do artista com o mundo, e o silêncio elabora uma dimensão necessária para o modo discursivo que essa exposição se inscreve, não de modo literal porque, de fato, como elaborado por John Cage, o silêncio tem sua forma e função.
Um som não encara a si próprio como pensamento, como algo precisado, como se necessitasse de outro som para sua elucidação, como etc.; ele não tem tempo para considerações - ele está ocupado com o desempenhar de suas características; antes de se dissipar, ele deve ter tornado perfeitamente exatos sua frequência, sua altura, sua duração, sua estrutura de sobretons, a morfologia exata dos mesmos e de si próprio. (Cage, 2019, p.14)
Omar Porto
REFERÊNCIAS
BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica. In.: Magia e Técnica, Arte e Política. Ensaios Sobre Literatura e História da Cultura - Volume 1. Série Obras Escolhidas. São Paulo: Brasiliense, 2012.
CAGE, John. Música experimental: Doutrina. In.: Silêncio. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.