* 16.09—11.10.25 * e/ou * Os melhores momentos do dia * de Marcelo Pacheco com Claudio Cretti e Thomaz Rosa
* 16.09—11.10.25 * e/ou * Os melhores momentos do dia * de Marcelo Pacheco com Claudio Cretti e Thomaz Rosa
orlando convida para a segunda exposição do projeto e/ou: Os melhores momentos do dia, de Marcelo Pacheco, em diálogo com obras de Claudio Cretti e Thomaz Rosa.
O título da exposição é emprestado de um poema de Raymond Carver, poeta americano, em que se testemunha os momentos preferidos compartilhados por um casal durante os dias de verão, por meio de uma série de imagens domésticas, de prazer e de presença. A ênfase recai nas pausas, nas texturas, nas temperaturas, ou sobre a delicadeza íntima do sensível.
Em Os melhores momentos do dia, Pacheco desloca a noção de tempo para um campo mais sensorial, construindo situações poéticas que vão além do visual. Trata-se de uma tentativa de trabalhar com objetos e operar sobre sua presença, aquietando a circulação do discurso e transcendendo as vontades de significação e de funcionalidade. Ganha espaço, assim, o registro da sensação.
A abertura acontece dia 16 de setembro, terça, das 18h às 22h e fica em cartaz até 11 de outubro.
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e/ou é um projeto expositivo em três momentos, com os artistas Thomaz Rosa, Marcelo Pacheco e Claudio Cretti.
Pensado como uma exposição expandida no tempo, o projeto propõe três individuais que se desdobram em um jogo coletivo: a cada mostra, um artista ocupa o espaço com um projeto autoral e convida os outros dois para estabelecerem diálogos visuais e conceituais, compondo constelações entre práticas e afetos.
e/ou: Os melhores momentos do dia
de Marcelo Pacheco, com Claudio Cretti e Thomaz Rosa
Abertura: 16 de setembro, das 18h às 22h
Visitação: até 11 de outubro
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BIOS
Marcelo Pacheco (Campinas, SP, 1984). Vive e trabalha em São Paulo.
Marcelo Pacheco desenvolve encontros e situações poéticas que exploram a instrumentalidade e a disponibilidade material. Ao produzir arranjos espaciais com componentes mínimos em madeira, metal ou tecido, concatenando texturas e padrões com atenção aos efeitos plásticos da repetição, Pacheco compartilha uma alteridade do prazer no fato decorativo dos objetos e no estar no mundo das coisas. Retirando seus materiais de uma letargia passiva, o artista ativa fricções cromáticas e espaciais, operando a conversão de elementos tridimensionais inusuais em linguagem pictórica.
Entre suas exposições individuais estão Madeira de vento, Quadra, São Paulo, Brasil (2023); Sementes no bolso, Casa de Cultura do Parque, São Paulo, Brasil (2021) e As listras da Zebra e as coisas sem pais, Quadra, Rio de Janeiro, Brasil (2021). Participou também das coletivas De viés, Quadra, Rio de Janeiro, Brasil (2024); Olhe bem as montanhas, Quadra, São Paulo, Brasil (2024); Uma cadeira é uma cadeira é uma cadeira, Luisa Strina, São Paulo, Brasil (2024); Coisa livre de coisa, Massapê Projetos, São Paulo, Brasil (2023) e Roots of intelligence, Gisela Projects, Nova York, EUA (2023). Pacheco foi indicado ao Prêmio Pipa (2020) e integra a coleção do Museu de Arte do Rio (2024).
Thomaz Rosa (São Caetano do Sul, 1989). Vive e trabalha em São Paulo.
A prática de Thomaz Rosa se desenvolve a partir de uma definição expandida de pintura, operando de forma seriada e explorando a tensão entre excesso visual e economia material. Suas obras propõem constelações de elementos heterogêneos que oscilam entre abstração, simulação imagética e objetos, articulando relações entre subjetividade, história da arte e banalidade cotidiana.
Participou de exposições individuais como A volta da sorte (Quadra, São Paulo, 2023), Um de Um Par (Castiglioni Fine Arts, Milão, 2023) e Conjuntos (Pop Up Castiglioni, Paris, 2024). Integrou coletivas em instituições e espaços como Sesc Santo André, Instituto Artium, Casa de Cultura do Parque, Mendes Wood DM, Museu de Arte de Ribeirão Preto, Museu da Inconfidência e GDA. Realizou residências no Pivô Arte e Pesquisa, Kaaysá e Faculdade de Belas Artes do Porto. Seus trabalhos integram coleções como a do Museu de Arte do Rio e Coleção Fiorucci.
Claudio Cretti (Belém, PA, 1964). Vive e trabalha em São Paulo.
A produção de Claudio Cretti propõe intermediações entre o bi e o tridimensional, articulando elementos naturais e culturais em objetos híbridos, instáveis, que tensionam funções, materiais e sentidos. Desde os anos 1980, desenvolve uma obra marcada pela experimentação formal e pelo cruzamento entre escultura, performance e instalação.
Realizou exposições individuais em instituições como Paço das Artes (Pandora, 2013), Pinacoteca (Onde pedra a flora, 2006), Palácio das Artes (Luz de ouvido, 2008), Casa Niemeyer (Acaso a coisa a casa, 2018) e Museu da Inconfidência (Evocativos, 2023). Participou de coletivas em espaços como Instituto Tomie Ohtake, MAM-SP, MuBE, Massapê Projetos e Carmo Johnson Projects. Suas obras integram coleções públicas e institucionais como o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC USP), Pinacoteca do Estado de São Paulo, Centro Cultural dos Correios (RJ), Museu da Inconfidência (Ouro Preto) e Universidade Estadual de Londrina (UEL). Foi tema de documentário na série O Mundo da Arte (TV Cultura/SESI, 2004) e teve sua trajetória reunida no livro Claudio Cretti (Martins Fontes, 2013). Foi indicado ao Prêmio PIPA (2020) e premiado em salões como o de Arte Contemporânea de Piracicaba e o Salão Paulista (1985).
Os melhores momentos do dia
por Giovanna Bragaglia
"Não se lê poesia pensando em outra coisa."
––Gaston Bachelard
Em tempos de construção de conteúdos sintéticos, onde tudo se mostra desenfreadamente mas quase nada permanece, parece que tudo escorrega de nossas mãos na falta de textura, por falta de temperatura e, principalmente, por uma desconexão das sensações. Esta exposição propõe o contrário: um tempo que escapa das palavras e repousa naquilo que se experimenta. Um tempo que não se mede, em um desvio para o sensorial, onde a matéria se aquece de presença e o texto cede lugar. Aqui, os objetos não se explicam, não representam, são. Em cada canto, num ar imóvel e suspenso, habita tudo o que está.
O título da exposição de Marcelo Pacheco, Os melhores momentos do dia, é inspirado num poema de Raymond Carver [1], que narra, em tom quase sussurrado, as pausas partilhadas por um casal num verão. Trata-se de pequenas cenas domésticas, marcadas por uma presença amorosa e silenciosa, a memória do calor da brisa da tarde, o som das janelas, o gosto na boca. Nos cantinhos, na dobra do tecido, no silêncio de um volume, à janela, tudo aquilo que não consigo dizer e guardo em caixas guardadas. Em tempos e espaços vãos, como aquele instante em que a luz irrompe a sala e tudo é tomado de uma clareza íntima, que só eu sei e não sei, e não digo, sinto.
As presenças de Claudio Cretti e Thomaz Rosa ressoam nessa proposta. Na sombra de algumas luzes da pintura–janela–interior de Rosa, ou da imaginada neblina do trago tragado do cachimbo que é cachimbo, de Cretti. Os melhores momentos do dia não se explicam, são. São como a brisa no fim da tarde, deixam atrás de si um perfume sem suporte [2], uma impressão leve, mas persistente, na pele da memória. É como o gosto da ameixa, tão doce e tão fria [3], naquela sala, com aquela gente, naquele dia, naquele verão, depois do vento inventado. Ou é tudo isso sem precisar dizer nada disso.
NOTAS
[1] CARVER, Raymond. O melhor momento do dia. In: Esta vida: poemas escolhidos. Tradução de Cide Piquet. 1. ed. São Paulo: Editora 34, 2017.
[2] Da citação de Werther, in.: BARTHES, Roland. Fragmentos de um discurso amoroso. 1. ed. São Paulo: Editora Unesp, 2018, p. 209: “Tivemos um verão magnífico e estou sempre no pomar de Lotte. trepado nas árvores, a vara de colher frutas na mão para pegar as peras dos galhos mais altos. Ela as recebe, embaixo, à medida que eu as jogo.” Werther conta, fala no presente, mas seu quadro já tem vocação para lembrança; o imperfeito murmura em voz baixa atrás desse presente. Um dia, lembrei-me-ei da cena, perder-me-ei ne no passado. O quadro amoroso, assim como o primeiro rapto, é feito de lembranças posteriores: é a anamnese, que só reconstitui detalhes insignificantes, não dramáticos, como se eu me lembrasse apenas do próprio tempo e de nada mais; é um perfume sem suporte, um grão de memória, uma simples fragrância; alguma coisa como um gasto puro, como só o haicai japonês o soube dizer, que não é recuperado em nenhum destino.”
[3] Do verso do poema This Is Just To Say, de William Carlos Williams, publicado em The Collected Poems: Volume I, 1909–1939 (New York: New Directions Publishing Corporation, 1991). ©1938 por New Directions Publishing Corp. Tradução livre da autora.